Receitas Vegetarianas e Veganas
Mãe vegana: "Minha filha vai crescer com a consciência da igualdade"
Súlivam Sena foi especialmente convidada para conduzir um bate-papo sobre crianças veganas no 1° Festival Vegetariano do ABC, que aconteceu no dia 30 de outubro em São Caetano.
O convite não foi a toa, já que ela e Clara, sua filha de 3 anos, seguem uma alimentação vegana. Após o término de sua atividade no evento, ela concedeu uma entrevista ao Jornal Vegano. Confira:
Além de ser mãe, você é uma mãe vegana. Como é que é isso?
É uma experiência sublime. Porque você está trazendo um ser para o planeta já com outra consciência. Já introduzindo nessa criança a consciência da igualdade.
Da igualdade entre raças, espécies, religiões, enfim, de que não existe essa “distorção” na diferença. A sociedade quer que vejamos assim, quer que julguemos e que estejamos “acima” dos demais, mas na educação com valores humanos aprendemos a unidade. Em todo o desenvolvimento da raça humana, as pessoas foram induzidas à competir. E hoje a gente vive em uma sociedade completamente desigual justamente por causa desse embasamento, que já está errado pela raiz, por causa dessa coisa de competividade. Existe o mito de que o espermatozóide, para chegar ao óvulo, correu mais que os outros e chegou na frente - a coisa do “number one”, “the best”. Na verdade, foi a força dele foi junta com a dos outros espermatozóides que o fez fecundar. Foi cooperação. Na verdade, não é a força da competividade que tá aqui. É a coisa da “complementariedade”. Do “um” ajuda o “outro”. Então assim, o lance de não comer carne e derivados, pensar em um mundo sem exploração (tanto do animal humano quanto a do animal não humano) nos leva à busca por um mundo justo, igualitário e fraterno. A Clara já tem essa consciência: ‘Espera aí! Eu quero ficar com minha mãe então acho que o bezerro quer estar com a mãe dele também, por isso... nada de leite e queijos’.
E ela já sabe que tem que respeitar os animais? Como foi ensinar isso?
Ela já sabe. Ela já entende. Todos os dias, conversamos (meu marido e eu) com ela sobre isso de uma maneira diferente. Porque sempre acontece algo inusitado, como, por exemplo, a gente está em uma festinha e aí tem um brigadeiro de origem animal com leite, então sempre tem a coisa do diálogo: ‘Não filha, espera aí, esse aí tem leite da vaquinha’. ‘Ah mamãe/papai, mas é só agora!’ ‘Só um pouquinho’. ‘Mas e aí? O bezerro já morreu e a vaquinha já foi escravizada, a vida deles por um momento de brigadeiro?’. E depois dá para introduzir um brigadeiro feito de soja, que vem da ‘terra’, que é diferente, também é vida claro, mas não tem um cérebro (sistema nervoso central), não tem um olho, não corre ou libera adrenalina na hora da ‘morte’. É outro tipo de consciência. O segredo está em não subestimar a inteligência das crianças. Elas entendem.
Você foi convidada para falar justamente sobre ser uma mãe vegana no Festival Vegetariano do ABC. Como você se sente?
A Luisa Pereira me chamou porque a gente já se conhece há algum tempo, uns dois anos quando na Natural Tech, onde fui voluntária da SVB (Sociedade Vegetariana Brasileira). A Clara ainda era um bebezinho e a Luisa já perguntou: ‘E aí? Ela vai ser vegana?’. E sim, ela já era vegana desde a barriga. Ela foi ao aniversário de dois anos da Clara onde tudo (bolo, salgadinhos, sojasco, docinhos) era vegan e ela achou um máximo. Começamos uma amizade a partir daí. Então esse convite de hoje me enche de felicidade por poder falar para as pessoas: ‘Desafiem sim esse sistema!’. Porque as ‘pessoas’ que estão inertes e conformadas em seus sofás não querem que você desafie. Quer que você obedeça, não questione e seja mais um (como elas). E a gente está aqui para cada um SER o que É, para questionar, duvidar, pesquisar... Negar a maneira como lidam com os seres todos. Nos colocar como formadores de opinião e lutar pela vida como um todo. A alma agradece. O planeta agradece. É uma alegria compartilhar isso e falar para as pessoas, ‘Escuta! Você é capaz também! Não vem não!’. Pois tem sempre alguém que fala, ‘ai eu acho que isso é para uma pessoa mais evoluída’, aí eu falo, ‘Quê? Nada a ver! Todo mundo é capaz! Se você não conseguiu ainda é por comodismo’. Você pode até falar, ‘não consigo por causa do comodismo, porque tenho preguiça, porque não quero enfrentar isso ou aquilo’. Mas que consegue, consegue. Qualquer pessoa consegue. Temos que mudar nossos padrões mentais, são eles os responsáveis pelo nosso aprisionamento na mesmice.
Queria que você falasse mais de como é quebrar um estereótipo. Pois as pessoas acham que uma mulher grávida não pode ser vegana ou uma mãe não pode educar seu filho com uma dieta vegana.
A maneira como eu lidei com isso foi provando e contestando. Eu estava grávida, fazia os exames, mostrava, estudava e pesquisava sobre alimentação. Claro que é preciso muita força mental, meu marido e eu a tivemos e isso foi fundamental. Está tudo no pensamento. Se tivéssemos uma mentalidade mais fraca ou deixássemos que as pessoas interferissem no nosso processo, provavelmente teria voltado à carne. Tudo começou no nosso padrão mental e na confiança que temos de que estamos no caminho certo. Animais são amigos e não alimento. PRONTO. Detalhe que na barriga Clara optou pela alimentação vegan, já que eu eu era ovolacto e com ela na “pança” não conseguia nem sentir o cheiro de derivados. Então, a ficha caiu e seguimos cada vez mais nossa intuição. Tem que ter essa certeza, ouvir o coração, de que você está fazendo algo por um bem maior, de não querer contribuir para a exploração e morte de outros seres.
Como se fosse uma motivação que faça você a buscar a harmonia entre saúde e ideologia?
Exatamente! Pois aí você vai estudar, ler, pesquisar. Você vai atrás de informações, de novos estudos... Quebrar um estereótipo não foi minha maior dificuldade. Estou em todos os momentos quebrando estereótipos, sou atriz e nessa profissão as pessoas fazem personagens com base na superfície e em estereótipos. Busco um outro tipo de vida e de arte. Rogério Che (meu marido) todos os dias me ajuda a ter essa visão de que não estamos aqui para seguir a mídia e os conceitos dessa sociedade desigual e falida. Portanto nossa arte não pode estar pautada por padrões sociais decadentes. Comer carne e derivados é decadente. Participar desse mercado assustador é triste e profundamente doloroso PARA TODOS. A maior dificuldade é lidar com essas pessoas que ficam te julgando e te questionando com perguntas sempre fúteis e repetitivas, o que cansa e altera um pouco o humor e a paciência. Mas ok, estamos todos no aprendizado. Chegaremos todos juntos, essa é a meta.
Fonte - 27.11.2011Essa entrevista faz parte do especial Crianças Vegetarianas. Acesse e veja artigos, dicas, receitas de papinhas e comidinhas, etc.
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