‘Estamos destruindo a Amazônia para alimentar vacas’. Entrevista com Jeremy Rifkin
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‘Estamos destruindo a Amazônia para alimentar vacas’. Entrevista com Jeremy Rifkin


Jeremy Rifkin é um economista de 65 anos. Assessorou Al Gore em assuntos relativos à economia e à ecologia durante a Administração de Bill Clinton. Uma reconhecida voz que há anos não se sente escutada. Afirma categoricamente que comer muitas vacas está aquecendo a Terra. Esteve em Madri na Conferência Crise alimentar: problemas e possíveis soluções, organizada pelo PSOE. Contou a José Luis Rodríguez Zapatero e a Robert Watson, diretor da Avaliação Internacional do Conhecimento, Ciência e Tecnologia em Agricultura para o Desenvolvimento (IAASTD), sua particular verdade incômoda. “É como se tivéssemos uma vaca no salão de casa e ninguém quisesse olhá-la”.

Segue a íntegra da entrevista que Rifkin concedeu a Maruxa Ruiz del Árbol e que está publicada no El País, 27-06-2008. A tradução é do Cepat.

Que mal as vacas estão fazendo ao aquecimento global?

A indústria da carne é a segunda maior causa do aquecimento do planeta. Sempre se fala do efeito da construção de prédios e do consumo que deles fazemos. Evidentemente, fala-se do transporte, mas nunca da indústria da carne. Pois bem: o consumo em prédios é a maior causa; a indústria da carne, a segunda, e o transporte, a terceira.

As vacas produzem emissões?

Sim, de metano, produzido por suas flatulências; de CO2, aquele que se gera quando comem e no transporte de sua carne aos mercados. Estamos destruindo a Amazônia para alimentá-las. É necessário produzir 900 quilos de alimentos para obter um quilo de carne.

Como se explica este desequilíbrio?

É preciso ter em conta que há uma relação entre os crescentes preços da energia, os custos da alimentação e a mudança climática. A ONU fez um relatório chamado Feed versus food (Razão versus alimentação) em que se concluía que 39% dos campos do mundo são utilizados para animais. Outros 47% são alimentos para o consumo humano. E outros 15% são para produtos industriais. Estamos utilizando o campo para alimentar os animais quando há 2,7 bilhões de pessoas que gastam mais da metade do seu dinheiro com alimentação.

O que propõe então?

Deveríamos começar a pensar em aumentar os impostos sobre alimentos para gado e animar a produção de alimentos para o consumo humano. Assim como colocamos um limite ao dióxido de carbono, temos que frear o consumo de carne.

Mas os produtores têm que ganhar a vida.

Evidentemente. Este é um tema que quero que fique bem claro. É preciso fazer a transição de maneira que não afete os produtores. Por isso, são tão importantes os incentivos para o cultivo de alimentos para o consumo humano.

Você tornou pública esta teoria no começo dos anos 90 com seu livro Beyond the Beef (Para além da carne). Por que ninguém lhe faz caso?

Sim, é uma velha história. É muito triste que nem sequer um líder mundial se tenha preocupado com isso. Há apenas duas pessoas que estão falando disso: Rajendra Pachauri (presidente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas – IPCC – e Prêmio Nobel da Paz em 2007 junto com Al Gore) e eu. Ah, e Paul McCartney, que está muito envolvido e propôs a segunda-feira verde para que no primeiro dia da semana todo o mundo faça dieta vegetariana.

Por que estão tão sozinhos?

Porque diz respeito à indústria global do gado e teria que se mudar os hábitos das pessoas. Perceba que precisamente sua dieta, a mediterrânea, que se baseia em grandes quantidades de frutas e verduras e muito pouca carne, é perfeita. O problema é que em países como o meu se consomem quantidades inadmissíveis de carne. Tomamos inclusive mais proteínas do que somos capazes de digerir.

Você come carne?

Pode-se dizer que sou 95% vegetariano. Comecei em 1977, mas tomo leite e como um pouco de peixe.

Publicado em 28.06.2008

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos



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